Beata Elisabetta Canori Mora
(1774-1825)
Beatificada pelo Pp. João
Paulo II em 24 de Abril de 1994
A
Grande Tribulação e
A Justiça de Deus em
suspenso
«Feita
a forte oração, Deus, pela sua infinita bondade, dignou-se escutar-me, e
permitiu que me avizinhasse à sua tremenda majestade, e permitiu-me de suster o
seu forte braço; eu não queria que descarregasse o golpe terrível do seu justo
furor. E assim, por aquele momento foi suspensa a justiça de Deus, mas não
aplacada. Mas, por toda a iniquidade que se comete, Deus estabeleceu enviar um
terrível castigo sobre a terra, para desse modo lavar tantas imundices e
iniquidades como as que se cometem. A oração das almas que o Senhor, pela sua
bondade se digna chama-las com o nome de predilectas, vão adiantando o tempo.
Mas
virá este tempo terrível e tremendo. Deus fechará os seus ouvidos e não
escutará nenhuma oração, e movido pelo zelo de punir justamente as maldades
gravíssimas que recebe, a sua divina justiça punirá a todos severamente com a
sua mão armada, sem que nenhum possa resistir nem escapar da sua mão vingadora.
[...]
Não
haverá precaução que seja suficiente para salvar as possessões e as pessoas,
porque frente à grande obra que o Senhor está para fazer não há quem possa
resistir nem salvar-se; assim que será vã toda prevenção, toda cautela. Aquilo
que se deve fazer é recorrer ao Altíssimo, para que se digne, pela sua infinita
misericórdia, contar-nos no número daqueles que pré-elegeu, os quais serão
contados debaixo do glorioso estandarte da cruz; estes serão todos salvos, com
todos os seus bens. Serão contados debaixo deste glorioso estandarte todos
aqueles que conservarem a fé em Jesus Cristo no seu coração, e que mantenham a
boa consciência, sem contaminá-la com as falsas máximas presentes, das que está
cheio todo o mundo.»
Os santos Apóstolos Pedro e
Paulo e as Quatro Árvores misteriosas
«O
que conto agora teve lugar na festa do grande príncipe dos apóstolos, o
glorioso São Pedro, no dia 29 de Junho de 1820. [...]
Pareceu-me
ver que se abria o céu e que do alto descia, com grande majestade, circundado
de uma corte de santos anjos que cantavam hinos de gloria, o grandíssimo
príncipe dos apóstolos, São Pedro, vestido dos hábitos pontificais. Levava na
mão o báculo com o qual traçava sobre a terra uma vastíssima cruz. Ao mesmo
tempo que o santo apóstolo traçava a dita cruz, os santos anjos rodeavam-no em
coroa, cantando com sumo respeito e veneração em louvor do santo apóstolo: «Costitues eos príncipes super omnem terram»,
com aquilo que vem depois.
Apontava
o seu misterioso báculo sobre os quatro lados da cruz que tinha traçado, e vi
então aparecer árvores verdejantes, recobertas de flores e frutos
preciosíssimos. As misteriosas árvores eram em forma de cruz, circundadas de
uma luz resplandecente. Depois disto, [São Pedro] foi abrir todas as portas dos
mosteiros das monjas e dos religiosos. Com interno sentimento entendia que o
santo apóstolo tinha erigido aquelas quatro árvores misteriosas para dar um
lugar de refugio à pequena grei de Jesus Cristo, para libertar os bons cristãos
do tremendo castigo que levará o mundo inteiro ao caos. Todos os bons cristãos
que tenham conservado no seu coração a fé de Jesus Cristo, estarão refugiados debaixo
destas misteriosas árvores; como âncora, todos os bons religiosos e religiosas,
que fielmente tenham conservado no seu coração o espírito do seu santo
instituto, estarão todos debaixo destas árvores misteriosas refugiados e
libertos do tremendo castigo. O mesmo digo de tantos bons eclesiásticos
seculares e outros tipos de pessoas, que terão conservado a fé no seu coração;
estes serão todos salvos.
Mas
ai daqueles religiosos e religiosas não observantes que desprezam as santas
regras, ai, ai, porque todos perecerão sob o terrível flagelo. O mesmo digo de
todos os maus eclesiásticos seculares e todo o tipo de pessoas, de todo o
estado, de toda condição, que dão largas à libertinagem e vão detrás das
máximas da reprovada filosofia presente. Estas [máximas] são contra as máximas
do Santo Evangelho, negam a fé em Jesus Cristo. Estes infelizes perecerão todos
sob o peso do braço exterminador da divina justiça de Deus, à qual nenhum
poderá resistir.
Os
bons cristãos estavam refugiados debaixo das misteriosas árvores, que eu ali
via na forma de belas ovelhas, sob a custodia do seu pastor, São Pedro, ao qual
prestavam humilde submissão e respeitosa obediência. Este símbolo significa o
povo cristão que milita sob o glorioso estandarte da cruz, o qual será imune ao
tremendo castigo que Deus está para mandar à terra por tantos pecados que se
cometem por parte da maior parte do cristianismo.»
«Concluída
pelo santo apóstolo a dita operação de assegurar sob as misteriosas árvores a
pequena grei de Jesus Cristo, São Pedro voltou ao céu acompanhado pelos santos
anjos que com ele tinham descido. Uma vez que voltaram ao céu, este vestiu-se
de um tenebroso azul, que aterrorizava só de olhar; um impetuoso vento de densa
névoa fazia-se ouvir em toda a parte... o som impetuoso e sinistro ouvia-se no
ar, qual feroz leão com o seu feroz rugido, e fazia ressoar o seu eco por toda
a terra.
O
terror punha todos os homens e todos os animais aterrorizados. Todo o mundo
estará em revolta e matar-se-ão uns aos outros, chacinar-se-ão entre eles sem piedade.
No tempo da sangrenta pugna a mão vingadora de Deus estará sobre estes
infelizes, e com a sua omnipotência punirá o seu orgulho e a sua temerariedade,
a sua desfaçatez e a sua presunção. Deus servir-se-á do poder das trevas para
exterminar estes sectários, estes homens iníquos e malvados que pretendem
derrubar e erradicar das suas profundas raízes e dos seus profundos fundamentos
a santa mãe Igreja católica.
Por
meio da sua perversa malícia, estes homens indignos pretendem destronar a Deus
do seu augustíssimo trono. Deus rir-se-á deles e da sua malícia, e com só um
movimento da sua omnipotente mão direita punirá estes homens iníquos,
permitindo ao poder das trevas sair do inferno. Estas grandes legiões de
demónios percorrerão todo o mundo, e por meio de grandes ruínas darão
cumprimento às ordens da divina justiça, às quais estão sujeitos estes
espíritos malignos; assim que, nem mais nem menos de quanto Deus o permita,
poderão danar os homens e as suas coisas, as suas famílias, os seus poderes,
vilas, cidades, casas e palácios, e qualquer outra coisa sobre a face da terra.
Deus
comandará imperiosamente ao poder das trevas que destrua todos os rebeldes, que
temerariamente tiveram a coragem de O ofender. Deus permitirá que estes homens
iníquos sejam castigados pela crueldade dos ferozes demónios, porque
voluntariamente se submeteram ao poder de Satanás e com ele se confederaram
para destruir a santa Igreja católica. Permitirá Deus que sejam punidos por
estes espíritos malignos por meio de uma morte cruel e despiedosa. [...]
Mas
os verdadeiros e bons cristãos terão em seu favor o valioso patrocínio dos
gloriosos apóstolos São Pedro e São Paulo. Estes vigilá-los-ão, os cuidarão e
custodiarão, a fim de que aqueles espíritos malignos não possam danar nem as suas
possessões, nem as suas pessoas. Estes bons cristãos serão imunes e preservados
da despiedosa ruína que produzirão estes espíritos malignos, com a permissão de
Deus e não de outra forma, porque este imenso Deus é o absoluto Senhor do céu e
da terra, e do inferno, do qual o tenebroso poder não pode fazer o mais pequeno
dano sem o sumo consentimento de Deus, sem a Sua vontade. Deus permitirá que
estes espíritos malignos façam grandes estragos sobre a terra, devastando todos
aqueles lugares donde Deus foi e é ultrajado, profanado, idolatrado e
sacrilegamente tratado: todos estes lugares serão demolidos sem ficar vestígio
deles.»
A reconciliação de Deus com
os homens
«Cumprida
a dita obra, punidos os ímpios com morte cruel, demolidos estes indignos lugares,
de repente vi serenar o céu e, imediatamente, do alto, vi São Pedro
majestosamente vestido com os hábitos pontificais, acompanhado de um imenso
número de anjos, os quais se dispunham à sua volta como uma coroa, e cantando
hinos de gloria em louvor do santo, obsequiando-o qual príncipe da terra. Neste
momento vi novamente abrir-se o céu e descer com grande pompa e majestade o
glorioso São Paulo que, com a autoritária potestade de Deus, percorria num
momento todo o mundo, encadeando todos aqueles espíritos malignos infernais, e conduzindo-os
à presença de São Pedro, quem, com a sua grande autoridade, os confinou nas
tenebrosas cavernas de donde tinham saído. À ordem do santo apóstolo São Pedro
todos voltaram ao fundo do inferno.
Então
vi aparecer sobre a terra um belo esplendor que anunciava a reconciliação de
Deus com os homens; os santos anjos conduziram a pequena grei de Jesus Cristo à
frente do trono do grande príncipe São Pedro. Esta era aquela pequena grei de
bons cristãos que no tempo do tremendo castigo será refugiado sob as
misteriosas árvores antes mencionadas, significadas quais gloriosos estandartes
da cruz, insígnia misteriosa da nossa santa religião católica. Os misteriosos
frutos das mencionadas árvores são os méritos infinitos de Jesus crucificado,
que por amor do género humano quis ser cravado na árvore da cruz.
Depois
de que os anjos apresentaram a pequena grei diante do trono do grande príncipe
do apóstolo São Pedro, todos aqueles bons cristãos lhe fizeram profunda
reverencia, e bendizendo a Deus, com uma grandessíssima humildade agradeceram a
Deus e ao santo apóstolo por ter regido e sustentado a Igreja de Jesus Cristo e
o cristianismo, para que não andasse no erro das falsas máximas do mundo. O
santo [São Pedro] escolheu o novo pontífice[3],
foi reordenada toda a Igreja, segundo os verdadeiros ditames do santo Evangelho,
restabeleceram-se as ordens religiosas, e muitas casas de cristãos tornaram-se
em casas religiosas, tanto era o fervor e o zelo pela gloria de Deus que tudo
era ordenado ao amor de Deus e do próximo. Desta maneira formou-se num momento
o triunfo, a glória, a honra da Igreja Católica: por todos era aclamada, por
todos estimada, por todos venerada, todos a seguiram, reconhecendo todos o
vigário de Cristo, o sumo pontífice.»
Breves dados biográficos da Beata
Elisabetta Canori Mora
Elisabetta
Canori Mora nasce em Roma a 21 de Novembro de 1774 no seio de uma família
abastada e profundamente cristã. O pai, Tomasso, era um importante proprietário
terratenente e geria muitas possessões agrícolas. Do matrimónio dos pais de
Elisabetta nascera doze filhos, seis dos quais morrerem no primeiro ano de
vida.
Passados
uns poucos anos a situação económica da família ficou difícil e Tommaso Canori
confiou Elisabetta e uma filha mais a um irmão seu que morava em Spoleto. Por
sua vez o tio confiou Elisabetta às irmãs agostinhas do mosteiro de Santa Rita
de Cascia, donde ela distinguiu pela inteligência, profunda vida interior e espírito
de penitencia.
De
volta a Roma, leva durante uns anos uma vida brilhante no mundo, sem perder a
sua coerência moral.
Um
prelado, amigo da família propôs a Elisabetta que entrasse no mosteiro das
Oblatas de São Filipe, fazendo-se cargo de todas as despesas, mas Elisabetta não
aceitou o convite para não deixar a família em dificuldade.
A
10 de Janeiro de 1976 na Igreja de Santa Maria in Campo Carleo, Elisabetta
casou-se com Cristoforo Mora, um bom rapaz, culto, educado, religioso, com uma
boa carreira de advogado. Depois de alguns meses, Cristoforo apaixonou-se por
outra mulher, e traiu a sua esposa Elisabetta, deixando de lado as obrigações
familiares e deixando-a na miséria.
Elisabetta
reage aos maltratamentos físicos e psicológicos do marido com total fidelidade.
Nasceram as filhas Marianna em 1799 e Maria Lucina em 1801. Era obrigada a
ganhar o próprio sustento com o seu trabalho, educava as filhas e dedicava-se
ao cuidado quotidiano da casa, alem de dedicar também tempo à oração, ao serviço
dos pobres e dos doentes.
Muitas
pessoas acudiam a ela por necessidades materiais e espirituais. Entrou na ordem
secular dos Trinitarios. Difundiu-se a fama da sua santidade, das suas
experiencias místicas (revelações de parte de Nosso Senhor e participação na Paixão
de Cristo, sendo estigmatizada) e pelo dom de curar os doentes.
Entregou-se
a si mesma pela conversão do marido, pelo Papa, pela Igreja e pela cidade de
Roma.
Morreu
a 5 de Fevereiro de 1825 e foi sepultada na igreja de San Carlo alle Quattro
Fontane.
Depois
da sua morte o marido converte-se, entrou ele também na Ordem Secular dos
Trinitarios; é consagrado irmão menor conventual e sacerdote, como Elisabetta
lhe tinha pedido.
Elisabetta Canori Mora foi beatificada a 24 de
Abril de 1994 por São João Paulo II. A sua memoria litúrgica celebra-se no dia
5 de Fevereiro. As suas relíquias veneram-se na Igreja de San Carlo alle Quattro
Fontane, dos padres trinitários espanhóis.
[1] Elisabetta Canori
Mora, La mia vita nel cuore della
Trinità. Diario della beata Elisabetta Canori Mora, sposa e madre, Librería
Editrice Vaticana, 1996.
Parte
terza – alla maggiore gloria di Dio (dal 1820 al 1824), 50. Vittima di
riconciliazione, 3, 5, 6, 7.
[2] O que aqui vem descrito corresponde aos “Três Dias de
Trevas”. Facto visto por muitos místicos católicos como Santa Maria de Jesus
Crucificado (1846-1878), Beata Anna Maria Taigi (1769-1837), São Gaspare Búfalo
(1786-1837), São Pio de Pietrelcina (1887-1968), Beata Elena Aiello (1895-1961)
e falado também por Nossa Senhora e Jesus em algumas das suas aparições, como
são aquelas em La Salette (1846), a Maximin Giraud e a Mélanie Calvat, e
aquelas em El Escorial (1981-2002) a Luz Amparo Cuevas.
[3] Jesus Cristo e Nossa Senhora, na mensagem de 18 de
Dezembro de 1981, em El Escorial, descrevem também o processo da Grande
Tribulação, da eleição de um novo Pontífice por parte de São Pedro e São Paulo,
e o triunfo da Igreja.