jueves, 25 de septiembre de 2014

Mensagens de Nossa Senhora aos Sacerdotes, Seus filhos predilectos através do Pe. Stefano Gobbi (1973-1997)

Mensagens de Nossa Senhora
aos Sacerdotes, Seus filhos predilectos,
através do Pe. Stefano Gobbi
(1973-1997)



Pe. Stefano Gobbi


A 8 de Maio de 1972, o Pe. Stefano Gobbi participa de uma peregrinação a Fátima e, na Capelinha das Aparições, põe-se a rezar por alguns Sacerdotes, que, alem de traírem a própria vocação, tentam formar associações rebeldes à autoridade da Igreja.
Interiormente, uma força o impele a confiar em Maria. Servindo-se dele, como de um humilde e pobre instrumento, Nossa Senhora acolherá todos os Sacerdotes que aceitarem o convite para se consagrarem ao Seu Imaculado Coração, para permanecerem fortemente ligados ao Papa e à Igreja a ele unida e conduzirem os fieis ao seguro refugio do Seu Coração Materno.
Formar-se-ia, assim, um poderoso exército, difundido por todas as partes do mundo e reunido, não com meios humanos de propaganda, mas com a força sobrenatural que brota do silêncio, da oração, do sofrimento e da fidelidade constante aos próprios deveres.
Pe. Stefano pediu, interiormente, a Nossa Senhora um pequeno sinal de confirmação e Ela, antes do fim daquele mesmo mês, pontualmente lho deu em Nazaret, no Santuário da Anunciação.
Origina-se, então, o Movimento Sacerdotal Mariano (M.S.M.) desta simples e interior inspiração que, em Fátima, o Pe. Stefano Gobbi teve na oração.
O M.S.M. é uma pequena semente plantada por Nossa Senhora no jardim da Sua Santa Igreja. Em pouco tempo tornou-se árvore frondosa e estendeu os seus ramos a todas as partes do mundo. É uma obra de amor que o Imaculado Coração do Maria faz surgir, hoje, a Igreja, para ajudar todos os seus filhos a viverem, na confiança e na esperança filial, os momentos dolorosos da purificação.
Nestes tempos de graves perigos, a Mãe de Deus e da Igreja, firme e incansável, apressa-se em ajudar, sobretudo os sacerdotes, seus filhos de maternal predilecção.




Nossa Senhora, 16 de Julho de 1973
Festa de Nossa Senhora do Carmo
“Eu serei a vossa Comandante”
«Perguntas-me porque te escolhi para difundir o meu Movimento, quando te sentes tão inapto e incapaz?
Precisamente porque conheces o teu nada e as tuas fraquezas, perguntas: “Porque não escolheis outro mais apto e capaz? Como podeis fiar-vos de mim, conhecendo bem a minhas infidelidades passadas?”
Meu filho, escolhi-te por seres o instrumento menos apto. Assim, ninguém dirá que esta Obra é tua!
O Movimento Sacerdotal Mariano há de ser Obra somente minha. Através da tua fraqueza, manifestarei a minha força; através do teu nada manifestarei o meu poder.
Eu mesma serei a comandante deste exército, que estou agora a formar no silêncio e no recolhimento. É para ele o tempo da infância e da vida oculta. É preciso muito silêncio, muita humildade, muita confiança, muita oração.
Os Sacerdotes do Movimento estou a escolhê-los e a formá-los Eu própria, segundo um desígnio do meu Imaculado Coração. Virão de todas as partes, do clero diocesano, das Ordens religiosas e dos diferentes Institutos. Formarão o exército dos “meus Sacerdotes”, que Eu própria hei-de alimentar e de formar para as próximas batalhas do Reino de Deus.
Não haja um chefe entre vós: Eu própria serei a vossa Comandante. Vós sereis todos irmãos; amando-vos, compreendendo-vos, ajudando-vos.
A única coisa importante é que vos deixeis formar por mim. Para isto é importante que cada um se ofereça e se consagre ao meu Coração Imaculado e se confie inteiramente a Mim. Depois eu tratarei de tudo.
Formá-los-ei num grande amor ao Papa e à Igreja a ele unida. Prepará-los-ei para um heróico testemunho do Evangelho, que irá para alguns até ao derramamento de sangue.
A seu tempo o Movimento sairá a campo descoberto para combater o bando contrário, o exército que o demónio, meu eterno inimigo, está a preparar com sacerdotes seus (...)»



As 605 Mensagens que o Pe. Stefano (em forma de locução interior) recebeu de Nossa Senhora, entre os anos 1973 e 1997, foram reunidas no livro “Aos Sacerdotes, filhos predilectos de Nossa Senhora”. Assim lhe diz Nossa Senhora a 29 de Agosto de 1973:
«Ó filho, quanto eu te comunico não te pertence, mas é para todos os meus filhos Sacerdotes que Eu amo com predilecção.
Destina-se, sobretudo, aos Sacerdotes do Movimento Sacerdotal Mariano, que Eu amo com especial carinho e quero formar e conduzir por minha mão a fim de os preparar para a sua grande missão.
Procura apontar, num caderno, tudo quanto Eu te for manifestando (...). Não te preocupes com a sua publicação. Disso se encarregará o teu confessor. Que este opúsculo seja difundido quantos antes entre os Sacerdotes: será o meio pelo qual os reunirei de todas as partes para formar com eles o meu exército invencível.
Permanece sempre no meu Coração e confia sempre em Mim, ó filho!»






Última mensagem de Nossa Senhora,
Milão, 31 de Dezembro de 1997
“Tudo vos foi revelado”
«Filhos predilectos, no silencio, na oração passai comigo as últimas horas de este ano que está por terminar. Não as passeis na dissipação e nos divertimentos, como fazem tantos dos meus filhos.
Este ano foi particularmente importante para o meu desígnio. Agora entrais nos meus tempos. Por isso vos tracei uma estrada luminosa, sobre a qual todos devereis caminhar, para viver a consagração ao meu Coração Imaculado que me fizeste.
Enfim tudo vos foi revelado.
Tudo vos foi revelado: o meu desígnio vos foi profeticamente anunciado em Fátima e, nesses anos, Eu o realizei através do meu Movimento Sacerdotal Mariano. Ele vos foi revelado na sua lenta preparação. Este vosso século, que está por terminar, foi posto sob o signo de um forte poder concedido ao meu adversário. Assim, a humanidade foi seduzida com o erro do ateísmo teórico e prático; em lugar de Deus foram construídos os ídolos que todos adoram: o prazer, o dinheiro, o divertimento, o poder, o orgulho e a impureza. Verdadeiramente Satanás, com a taça da luxúria, conseguiu seduzir todas as nações da terra. Ao amor fez suceder o ódio; à união a divisão; à justiça as muitas injustiças; à paz uma continua guerra. De facto este século transcorreu todo sob o signo de guerras cruéis e sangrentas que fizeram milhões de vítimas inocentes. Então a Santíssima Trindade dispôs que o vosso século fosse posto sob o signo de uma minha forte, materna e extraordinária presença. Assim, em Fátima indiquei o caminho que humanidade devia percorrer para o seu retorno ao Senhor: o da conversão, da oração e da penitencia. E vos ofereci como seguro refúgio o meu Coração Imaculado.
Tudo vos foi revelado: o meu desígnio vos foi indicado também na sua dolorosa actuação.
A humanidade caiu nas mãos de Satanás e do seu grande poder, exercitado com as forças satânicas e maçónicas; a minha Igreja foi obscurecida pelo seu fumo que penetrou dentro dela. Os erros são ensinados e propagados, fazendo muitos perderem a verdadeira fé em Cristo e no seu Evangelho; a santa Lei de Deus é abertamente violada; o pecado é cometido e com frequência é também justificado e assim perde-se a luz da Graça e da presença divina; a unidade é profundamente rompida pelas fortes contestações ao Magistério, sobretudo ao Papa, e se estende sempre mais a chaga de dolorosas lacerações.
Para dar à Igreja, sofredora e crucificada do vosso tempo, a minha ajuda materna é um refugio seguro: fiz surgir o Movimento Sacerdotal Mariano e o difundi em toda a parte do mundo, por meio deste meu Livro, que vos traça a estrada que deveis percorrer para difundir a minha Luz. Com este Livro vos ensino a viver a consagração ao meu Coração Imaculado, com a simplicidade das crianças, em espírito de humildade, de pobreza, de confiança e de filial abandono.
Faz já vinte e cinco anos que vos guio, com as palavras que dito ao coração deste meu pequeno filho, que Eu escolhi como instrumento para actuação do meu desígnio materno. Nestes anos Eu mesma levei-o muitas vezes a todas as partes do mundo, e ele deixou-se docilmente conduzir, pequeno e temeroso, mas totalmente abandonado a mim, como uma criança nos braços de sua Mãe.
Enfim tudo quanto eu vos devia dizer vos foi dito, porque tudo vos foi revelado.
Assim, nesta noite, terminam as mensagens públicas, que durante vinte e cinco anos vos dei: agora deveis meditá-las, vivê-las e pô-las em prática. Então as palavras que fiz descer do meu Coração Imaculado, como gotas de orvalho celeste sobre o deserto da vossa vida tão insidiada, produzirão frutos de graças e de santidade. De agora em diante me manifestarei através da palavra, da pessoa e das acções deste meu pequeno, que Eu escolhi para vos servir de guia e agora conduzo ao vértice doloroso da sua missão.
Tudo vos foi revelado: o meu desígnio vos foi predito sobretudo no seu maravilhoso e vitorioso cumprimento.
Anunciei-vos o triunfo do meu Imaculado Coração no mundo. Por fim o meu Imaculado Coração triunfará. Isso acontecerá no maior triunfo de Jesus, que trará para o mundo o seu glorioso reino de amor, de justiça e de paz e fará novas todas as coisas. Abri os corações à esperança. Escancarai as portas a Cristo que vem a vós na glória. Vivei a trépida hora deste segundo Advento. Tornai-vos, assim, os corajosos anunciadores deste meu triunfo, porque vós, pequenas crianças consagradas a Mim, que viveis do meu próprio espírito, sois os Apóstolos destes últimos tempos. Vivei como fieis discípulos de Jesus, no desprezo do mundo e de vós mesmos, na pobreza, na humildade, no silencio, na oração, na mortificação, na caridade e na união com Deus; enquanto sois desconhecidos e desprezados pelo mundo.
Chegou o momento de sair do vosso ocultamento para ir iluminar a terra. Mostrai-vos a todos como os meus filhos, porque Eu estou sempre convosco. A fé seja a luz que vos ilumina nestes dias de obscuridade, e vos consuma somente o zelo pela honra e glória do meu filho Jesus. Combatei filhos da Luz, porque a hora da minha batalha já chegou. Dentro do mais rijo inverno vós sois os rebentos que desabrocham no meu Coração Imaculado e que Eu deponho sobre os ramos da Igreja, para dizer-vos que está por chegar a sua mais bela primavera.
Será para Ela o segundo Pentecostes. Por isso vos convido a repetir frequentemente nos Cenáculos a oração que vos pedi: — “Vinde Espírito Santo; vinde por meio da poderosa intercessão do Imaculado Coração de Maria, vossa amadíssima Esposa”. 
Com o amor de uma Mãe que, nestes anos, foi por vós escutada, seguida e glorificada, a todos vos abençoe em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.»




São João Paulo II e o Movimento Sacerdotal Mariano    

O Pe. Gobbi, num dos muitos encontros que teve com o Papa Joao Paulo II.
Este teve lugar no Vaticano, no dia 20 de Dezembro de 1989, no 25º aniversario de ordenação sacerdotal do Pe. Stefano Gobbi,
depois da concelebração com o Santo Padre na sua capela particular.

Conta-nos o Padre Gobbi: «Após seis meses da sua eleição para Sumo Pontífice, em 26 de Abril de 1979, [João Paulo II] convidou-me para concelebrar na sua Capela particular no Vaticano; por uma dezena de anos, no mês de Dezembro, participei da concelebração com o Santo Padre e informava-o sobre o desenvolvimento do Movimento Sacerdotal Mariano e dos Cenáculos que fazia em toda parte do mundo, recebendo do Papa conforto, encorajamento e a sua bênção apostólica. Durante um destes encontros, um padre que me acompanhava lhe dizia que era vice-pároco de uma paróquia de Roma, então o Papa João Paulo II, indicando-me com a sua mão, disse-me: “e a tua paróquia é o mundo inteiro”.»




O sensus fidei e a autoridade eclesiástica respeito das
Mensagens de Nossa Senhora ao Pe. Gobbi

O Movimento Sacerdotal Mariano, através do “pequeno instrumento” que é o livro onde estão as mensagens de Nossa Senhora aos Sacerdotes, seus filhos predilectos, difundiu-se de uma maneira silenciosa e extraordinária. É evidente a simpatia do sensus fidei de que goza o Movimento: em quase todas as nações da Europa, América, Ásia, África e Oceânia, há responsáveis nacionais encarregados de recolher adesões, organizar e acompanhar os Cenáculos pedidos por Nossa Senhora ao Pe. Gobbi. Face à autonomia que se dá aos centros nacionais, não é fácil levantar uma estatística precisa. Isto, porém, não é de grande importância, pois estamos diante de um “espírito” que foge aos controles externos e se realiza na medida em que cada Sacerdote que aderiu ao Movimento procura viver todos os dias a sua consagração a Maria.
Pelas cartas de inscrições recebidas, os que aderiram seriam agora, cerca de 400 Bispos, mais de 100.000 Sacerdotes do clero diocesano e de todas as Ordens e Congregações religiosas. Para os leigos, não havendo uma inscrição propriamente dita, não se pode avaliar o número, nem mesmo aproximadamente, ainda que com certeza se trate de milhões.

Quanto à autoridade eclesiástica, respeito das Mensagens de Nossa Senhora ao Sacerdotes, seus filhos predilectos, contam-se por dezenas os imprimatur concedidos ao mesmo. Das versões portuguesas e italiana transcrevemos as seguintes:

Na 24ª edição do livro em português consta o imprimatur do Cardeal Bernardino Echeverría Ruíz, OFM:
«Depois de ter lido e depois de ter meditado profundamente sobre as mensagens que a Santíssima Virgem fez chegar ao Rev. Pe. Stefano Gobbi, considero um privilegio não somente poder dar o “Imprimatur” para a edição de este livro, mas também poder aproveitar esta oportunidade para recomendar a leitura destas mensagens que contribuirão para aumentar a devoção à Santíssima Virgem.
São Marino, 29 de Junho de 1998, Festa de São Pedro e São Paulo.
† Bernardino Cardeal, Echeverría.»

Na 25ª edição do livro em italiano consta a nota do Cardeal Ignace Moussa Daoud:
«Estamos muito felizes de saber que o Movimento Sacerdotal Mariano, fundado pelo reverendo sacerdote Stefano Gobbi, quem o continua a dirigir, chegou ao Médio Oriente, e ao qual aderiram muitos sacerdotes das nossas Igrejas orientais. Os cenáculos de oração que os sacerdotes tem entre eles e com os fieis, nas igrejas e nos santuários, os colmam de graças abundantes, faz aumentar a constância nas suas vocações e no seu zelo pela salvação das almas.
Com ocasião da terceira edição em língua árabe do “livro azul”, que contem as “inspirações” da Virgem dadas ao P. Stefano Gobbi, nós encorajamos os sacerdotes e fieis orientais a possuí-lo, a caminhar segundo as directrizes e os conselhos da Santa Virgem, a escutar o seu continuo apelo: “Fazei aquilo que vos dirá”.
São as crianças de Maria, que serão adornadas pela graça de Deus no momento das dificuldades e das provas, confiadas na promessa segura da Virgem: “Por fim, o meu Coração Imaculado triunfará”.
Convidamos, por tanto, os Membros do Movimento Sacerdotal Mariano a esta obediência filial ao Filho Salvador, dando-vos a nossa bênção Apostólica.
Cidade do Vaticano, 21 de Janeiro de 2002.
Card. Ignace Moussa Daoud
Patriarca emérito de Antioquia dos Sírios
Perfeito da Congregação para as Igrejas Orientais».

Consta também na 25º edição italiana o imprimatur do Arcebispo Metropolitano de Pescara – Penne, D. Francesco Cuccarese, no dia 8 de Dezembro de 2003, Festa da Imaculada Conceição.    







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miércoles, 17 de septiembre de 2014

São Luís-Maria Grignion de Montfort e o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem


São Luís-Maria Grignion de Montfort
(1673–1716)

Canonizado pelo Pp. Pio XII em 1947    


O Tratado da Verdadeira Devoção
à Santíssima Virgem


A estátua de Sao Luís-Maria está agora colocada no nicho superior da Nave Sul da Basílica de Sao Pedro no Vaticano.

Para esta brevíssima apresentação de São Luís Maria, acudo às palavras de São João Paulo II, a 21 de Junho de 1997, na sua carta dirigida à Família Monfortina, por ocasião do 50º aniversario da canonização de São Luís-María Grignion de Montfort.
O Santo Padre anuncia a sua felicidade na acção de graças ao Senhor «pela grande irradiação deste santo missionário, cujo apostolado foi nutrido por uma profunda vida de oração, uma inabalável fé em Deus Trindade e uma intensa devoção à Santíssima Virgem Maria, Mãe do Redentor.» E continua: «Pobre entre os pobres, profundamente integrado na Igreja apesar das incompreensões que encontrou, São Luís-Maria tomou por lema estas simples palavras: “Só Deus”. Ele cantava: “Só Deus é a minha ternura, só Deus é o meu sustentáculo, só Deus é todo o meu bem, a minha vida e a minha riqueza” (Cântico 55, 11). Nele, o amor por Deus era total. Era com Deus e por Deus que ia ao encontro dos outros e percorria os caminhos da missão.»
O Papa louva também a espiritualidade teocêntrica de São Luís-Maria, quem tinha o “gosto de Deus e da Sua Verdade” (O amor da Sabedoria eterna, n.13), e não hesitava «em abrir aos mais humildes o mistério da Trindade, que inspira a sua oração e a sua reflexão sobre a Encarnação redentora, obra das Pessoas divinas». «A pessoa de Cristo domina o pensamento de Grignion de Montfort: “Jesus Cristo, nosso Salvador, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, deve ser o fim último de todas as nossas outras devoções” (Tratado da verdadeira devoção, n. 61). A Encarnação do Verbo é para ele realidade absolutamente central: “Ó Sabedoria eterna [...] adoro-Vos [...] no seio do vosso Pai durante a eternidade, e no seio virginal de Maria, vossa digna Mãe, no tempo da vossa Encarnação” (O amor da Sabedoria eterna, n. 223).»
Noutra ocasião, num escrito autobiográfico, com ocasião do 50º aniversario da sua ordenação sacerdotal, João Paulo II não hesita em afirmar que São Luís-Maria «é um teólogo de classe». De facto, pôs ao serviço da sua pluma todos os conhecimentos sólidos que tinha da Teologia dogmática y patrística juntamente com os ardores de um coração amante de Maria e Jesus.



São João Paulo II a respeito do “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”

O Papa, na sua carta com motivo do 50º aniversario da canonização de São Luís-Maria, diz-nos que «para conhecer a Sabedoria eterna, incriada e encarnada, Grignion de Montfort convidou constantemente a confiar na Santíssima Virgem Maria, tão inseparável de Jesus que «antes se separaria a luz do sol» (Verdadeira devoção, n. 63)», e ressalta a chamada do santo monfortino a «consagrar-se totalmente a Maria, para acolher a sua presença no mais íntimo da alma».


Foi exactamente isto que fez São João Paulo II, quem teve como livro de cabeceira e livro de bolso que o acompanhou toda a sua vida, o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, de São Luís-Maria Grignion de Montfort. Foi do mesmo Tratado donde João Paulo II retirou o seu lema episcopal tal como o atesta na sua Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, 15: «Esta acção de Maria, totalmente fundada sobre a de Cristo e radicalmente subordinada a esta, «não impede minimamente a união imediata dos crentes com Cristo, antes a facilita»[1]. É o princípio luminoso expresso pelo Concílio Vaticano II, que provei com tanta força na minha vida, colocando-o na base do meu lema episcopal: Totus tuus.[2] Um lema, como é sabido, inspirado na doutrina de S.Luís Maria Grignion de Montfort, que assim explica o papel de Maria no processo de configuração a Cristo de cada um de nós: “Toda a nossa perfeição consiste em sermos configurados, unidos e consagrados a Jesus Cristo. Portanto, a mais perfeita de todas as devoções é incontestavelmente aquela que nos configura, une e consagra mais perfeitamente a Jesus Cristo. Ora, sendo Maria entre todas as criaturas a mais configurada a Jesus Cristo, daí se conclui que de todas as devoções, a que melhor consagra e configura uma alma a Nosso Senhor é a devoção a Maria, sua santa Mãe; e quanto mais uma alma for consagrada a Maria, tanto mais será a Jesus Cristo”.[3]»



São Luís-Maria, o “Tratado” e Satanás

São Luís escreveu o Tratado, provavelmente, no ano 1712, tendo o santo morrido a 28 de Abril de 1716. Os escritos de Luís-Maria foram cuidadosamente guardados  —quiçá num arquivo ou lugar reservado—, até que os tempos revolucionários do século XVIII francês obrigaram a mãos piedosas a fechá-los num cofre e a sepultá-los debaixo de terra à espera de tempos de ressurreição. Este momento chegou em 1842 —passados 130 anos—, e, como uma verdadeira graça sobrenatural, o livro do Tratado apareceu ao mundo em 1843.
Este acontecimento foi previsto à letra (revelação?, profecia?) pelo autor. Assim escreve São Luís no nº 114 do Tratado: «Prevejo que muitas bestas enraivecidas virão em fúria para rasgar com seus dentes diabólicos este pequeno escrito e aquele de quem o Espírito Santo se serviu para o compor. Ou pelo menos procurarão envolver este livrinho nas trevas e no silêncio duma arca, a fim de que não apareça. Atacarão mesmo e perseguirão aqueles que o lerem e puserem em prática. Mas, que importa? Tanto melhor! Esta visão anima-me e faz-me esperar um grande êxito, isto é, um grande esquadrão de bravos e valorosos soldados de Jesus e Maria, de ambos os sexos, que combaterão o mundo, o demónio e a natureza corrompida, nos tempos perigosos que mais do que nunca se aproximam! (cf. Mt 24, 15). “Aquele que lê, entenda! Quem puder compreender, compreenda!” (Mt 19, 12).»



O “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”

Continuo a citar a carta de São João Paulo II com ocasião do 50º aniversario da canonização de São Luís Maria: «No nosso tempo, em que a devoção mariana é viva mas nem sempre suficientemente esclarecida, seria bom reencontrar o fervor e o justo estilo do Padre de Montfort, para atribuir à Virgem o seu verdadeiro lugar e aprender a orar: «Ó Mãe de misericórdia, dai-me a graça de obter a verdadeira sabedoria de Deus e de me colocar por isso no número daqueles que amais, ensinais e conduzis [...] Ó Virgem fiel, tornai-me em todas as coisas um perfeito discípulo, imitador e escravo da Sabedoria encarnada, Jesus Cristo, vosso Filho» (O amor da Sabedoria eterna, n. 227)».
Nesta publicação, e em publicações posteriores, farei uma colectânea dos números do Tratado, que quero ressaltar, de acordo com aquilo que é a temática do Apelos de Nossa Senhora.



Introdução do “Tratado da Verdadeira Devoção”

1. Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por Ela que deve reinar no mundo.

5. Maria é a obra-prima por excelência do Altíssimo, cuja posse e conhecimento Ele reservou para si. Maria é a Mãe admirável do Filho o qual quis humilhá-la e escondê-la durante a vida para favorecer a sua humildade. Para este fim tratava-a pelo nome de “Mulher” (Jo 2, 4; 19, 26), como a uma estranha, embora no seu Coração a estimasse mais do que a todos os anjos e a todos os homens.
Maria é a fonte selada[4] e a esposa do Espírito Santo, onde só Ele tem entrada. Maria é o Santuário e o Repouso da Santíssima Trindade, onde Deus está mais magnífica e divinamente que em qualquer outro lugar do universo, sem exceptuar a sua morada acima dos querubins e serafins. Neste santuário nenhuma criatura, por mais pura que seja, pode entrar, a não ser por grande privilégio.

6. Digo com os santos: a divina Maria é o Paraíso Terrestre do novo Adão,[5] onde Ele encarnou por obra do Espírito Santo, para aí operar maravilhas incompreensíveis. É o grande, o divino mundo de Deus, onde há belezas e tesouros inefáveis. É a magnificência do Altíssimo, onde Ele escondeu, como em seu Seio, o seu Filho Único e n'Ele tudo o que há de mais excelente e precioso. Que grandes e misteriosas coisas fez o Deus omnipotente nesta admirável criatura, segundo Ela própria é forçada a dizer, a pesar da sua profunda humildade: “O poderoso fez em mim grandes coisas!” [Lc 1, 49]. O mundo não conhece estas maravilhas, porque é incapaz e indigno disso.

8. Todos os dias, de um extremo a outro da Terra, no mais alto dos céus, no mais profundo dos abismos, tudo proclama e publica a admirável Virgem Maria. Os nove coros dos anjos, os homens de ambos os sexos, idades, condições ou religiões, os bons e os maus, e até os mesmos demónios são forçados a chamá-la bem-aventurada, quer queiram, quer não; a isso os obriga a força da verdade. Como diz São Boaventura, todos os anjos lhe cantam no Céu incessantemente: “Santa, Santa, Santa Maria, Mãe de Deus e Virgem![6] E, todos os dias, lhe oferecem milhões de vezes a saudação angélica: “Ave, Maria...”, prostrando-se na sua presença e pedindo-lhe a mercê de os honrar com algumas das suas ordens. O próprio São Miguel –disse Santo Agostinho–, embora seja o príncipe de toda a corte celeste, é o mais diligente em lhe prestar toda espécie de homenagens e em fazer com que lhas tributem. Constantemente aguarda a honra de por Ela ser mandado em auxílio a alguns dos Seus servos.

10. Depois disto, forçoso é dizer com os santos: “De Maria numquam satis![7] Isto é, Maria não foi ainda suficientemente louvada e exaltada, honrada, amada e servida. Merece ainda muito maior louvor, respeito, amor e serviço.

12. Depois de tudo isto, temos de exclamar com o Apóstolo: “Nem os olhos viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração do homem compreendeu...” [1 Cor 2, 9] as belezas, as grandezas e a excelência de Maria, o mais sublime milagre da graça, da natureza e da glória. Se quereis compreender a Mãe, diz um santo, procurai compreender o Filho. Ela é uma digna Mãe de Deus: “Que toda a língua aqui emudeça!

13. Foi o meu coração que ditou o que acabo de escrever com particular alegria, a fim de mostrar como Maria Santíssima tem sido insuficientemente conhecida até agora e como é esta uma das razões por que Jesus Cristo não é conhecido como deve ser.
Se é certo que o conhecimento e o Reino de Jesus Cristo se estabelecerão no mundo, não será mais que uma consequência necessária do conhecimento e do Reino da Santíssima Virgem Maria. Ela deu Jesus Cristo ao mundo a primeira vez, e há de fazê-lo resplandecer também segunda vez.
Sobre este nº13 cito as palavras do Pp. Paulo VI, no Discurso na Clausura da Terceira Sessão do Concilio Ecuménico Vaticano II, (21.11.1964): «O conhecimento da verdadeira doutrina católica sobre Maria constituirá sempre uma chave para a exacta compreensão do mistério de Cristo e da Igreja»






Testemunhos de Papas e autoridades eclesiásticas sobre o “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, de São Luís-Maria Grignion de Montfort

São Pio X — «Recomendamos empenhadamente o admirável Tratado de Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem do Bem-aventurado Montfort, e a todos aqueles que o lerem concedemos jubilosamente a Bênção Apostólica»

Bento XV — «[São Luís] deixou-vos este livro escrito pela sua própria mão [...] de tão grande autoridade e de tão grande unção»

Pio XII — «[São Luís] conseguiu que a integridade da doutrina católica fosse salvaguardada e que a religião católica iluminasse não apenas os espíritos, mas que viesse a exercer uma influencia benfazeja sobre os costumes privados e públicos»

O Cardeal D. José Saraiva Martins, Perfeito para a Congregação para as Causas dos Santos (1998-2008), no seu prefacio à edição portuguesa (Março 2012), refere-se ao Tratado como «uma espécie de tratado doutrinal sobre algumas verdades centrais da nossa fé».

Recentemente a Congregação para o Culto Divino, com o motivo da decisão de inscrever a celebração do Santo de Montfort no Calendário Romano Geral, diz o seguinte: «Recolhendo no ensinamento mariano de São Luís Maria Grignion de Montfort, como de saudável fonte, as indicações para a vida espiritual, são formadas, nos seminários e nos noviciados de todo o mundo, gerações de sacerdotes, de homens e mulheres consagrados a Deus, e ainda de numerosíssimos fieis. Não poucos santos e bem-aventurados encontraram na espiritualidade monfortana a fonte na qual podem alimentar sua Devoção à Mãe de Cristo e da Igreja. Ainda hoje diversos movimentos e grupos, espalhados pelas diversas partes do mundo, fazem explícita referencia à doutrina de São Luís Maria Grignion de Montfort
















[1] Conc. Ecum. Vat. II, Const. Dogm. Lumen Gentium, 53
[2] Cf. Primeira Rádiomensagem Urbi et orbi (17 de Outubro de 1978): AAS 70 (1978)
[3] Tratado da verdadeira devoção a Maria, 120, em: Obras. Vol. I Escritos espirituais (Roma 1990), p. 430.

[4] «És jardim fechado, minha irmã, minha esposa, nascente fechada, fonte selada» (Cant 4, 12).
[5] Esta leitura de Gen 2, 8 em sentido mariano encontra-se também, por exemplo, em S. Efrém, S. Proclo, S. Ambrósio, S. João Damasceno, S. Leão Magno.
[6] Cf. São Boaventura, Psalt, majus, in Hymn. Ambros.
[7] Cf. Boudon, A Imaculada, prefácio, vol. 2, col. 589: «Se se disser que há demasiados livros sobre a devoção à Santíssima Virgem, os Santos Padres respondem que nunca se poderá louvá-la suficientemente; e São Bernardo, em especial, assegura que, ainda que todos os homens se esforçassem por falar dela, nunca se poderia dizer o bastante...»