Beata Ana Catarina Emmerich
(1774-1824)
Beatificada por São João Paulo
II a 3 de Outubro de 2004
A falsa Igreja
«12 de Novembro 1820. –
Viajava através de uma comarca sombria e fria e cheguei à grande cidade (Roma).
De novo vi ali a grande e singular igreja que se estava a construir; não havia
nela nada de santo; vi, da mesma maneira que vejo uma obra católica,
eclesiástica, onde os anjos, os santos e os cristãos trabalham em comum; mas
desta vez o trabalho era feito de forma mais mecânica.
Vi em cima desenhar
linhas e traçar figuras, e a seguir vi como na terra um homem tinha levantado
um plano, um desenho. Vi a acção dos orgulhosos espíritos planetários e como as
suas relações com esta construção se fazia sentir até ás regiões mais
distantes. Vi chegar até muito longe o impulso dado para a preparação de tudo o
que podia ser necessário para a construção e para a existência desta igreja;
ali vi chegarem todo o tipo de pessoas e de coisas, de doutrinas e opiniões.
Nisto tudo havia algo de orgulhoso, de presunçoso, de violento, e tudo parecia
ter êxito e eu continuava e ver uma serie de cenas. Vi subir e descer os
espíritos planetários que enviavam raios sobre as pessoas que estavam a
construir o edifício. Tudo era feito segundo a razão humana.
Não vi um único anjo nem
um único santo a cooperar nesta obra. Mas vi muito mais longe, ao fundo, o
trono de um povo selvagem armado com espadas, e uma figura que ria dizendo: “construí
o mais sólidos que queirais, nós a derrubaremos”». (AA[1].III.105)
«(Vi) que se mina e se asfixia
tão habilmente a religião que não resta mais do que um pequeno número de
sacerdotes que não esteja seduzido. Não sei como isto aconteceu, mas vejo a
névoa e as trevas alastrarem-se cada vez mais. No entanto há três igrejas nas que
não conseguem penetrar: a de S. Pedro, a de Sta. Maria Maior e a de S. Miguel.
Trabalham consecutivamente para as demolir mas não conseguem. Todos trabalham
para a demolição, inclusivamente os eclesiásticos. Uma grande devastação está
próxima». (AA.III.122)
«Vi muitas abominações
com grande detalhe; reconheci a cidade de Roma e vi a Igreja oprimida e a sua
decadência no interior e no exterior». (AA.III.159)
«Vi numa pradaria verde
muitas pessoas, entre as quais sábios, reunirem-se à parte [...] e apareceu uma
nova igreja onde estavam todos reunidos. Esta igreja era
redonda com uma cúpula cinzenta e eram tantas as pessoas que aí afluíam que eu
não entendia como podiam caber todas. Era como um povo inteiro.
No entanto, esta nova
igreja tornava-se cada vez mais sombria e negra (de início era cinzenta) e tudo
o que se passava nela era como um vapor negro. Estas trevas espalharam-se para
fora e todo o verde secou; várias paróquias das redondezas foram invadidas pela
escuridão e secura, e o prado, a uma grande distância, tornou-se como um
pântano sombrio.
Vi então vários grupos
de pessoas bem intencionadas que corriam para o lado da pradaria onde ainda
havia verde e luz.
Não encontro palavras
para descrever o efeito terrível, sinistro, mortífero desta igreja. Todo o verde
desaparecia, as árvores morriam, os jardins perdiam a sua beleza. Vi, como numa
visão, as trevas produzirem o seu efeito a uma grande distância; onde chegavam,
estendiam-se como uma corda negra. Não sei o que se passou com todas as pessoas
que estavam dentro dessa igreja. Era como se devorasse os homens: tornava-se
cada vez mais negra, totalmente semelhante ao carvão da forja, descamando-se de
maneira horrível.
Depois disto (da
horrível visão da igreja negra) fui guiada por três anjos até um grande lugar
verdejante rodeado de muros, como o cemitério que há aqui em frente.
Fui posta ali como que
sentada num banco alto. Não sabia se estava viva ou morta, mas vestia uma
túnica branca.
O mais alto dos três
disse-me: “Louvado seja Deus! Aqui ainda há luz e verde”. Então, entre a igreja
negra e eu, caiu do céu como que uma chuva de deslumbrantes pedras brilhantes e
preciosas…
Um dos meus companheiros
(um dos três anjos) ordenou-me que as recebesse. Depois desapareceram. Não sei
se partiram todos; lembro-me que, por causa da grande ansiedade que me causou a
igreja negra, não tive coragem de receber as pedras preciosas. Quando o anjo
regressou, perguntou-me se as tinha guardado e respondi-lhe que não; então
ordenou-me que o fizesse.
Inclinei-me para a
frente e encontrei ainda três pedras pequenas talhadas como cristais. Estavam
pela seguinte ordem: a primeira era azul, a segunda de um vermelho claro, a
terceira de um branco brilhante e transparente. Levei-as aos meus dois outros
companheiros, que eram mais pequenos que o primeiro, e, andando sempre de aqui
para acolá, eles esfregavam-nas umas contra as outras e fizeram surgir delas os
mais belos raios de luz que se estenderam por todo o lado. Ali a donde
chegavam, o verde renascia, a luz e a vida se propagavam. Noutro lado vi a
igreja tenebrosa que se degradava.
Depois, num ápice, uma
grande multidão espalhou-se pelo prado verdejante e cheio de luz, dirigindo-se
a uma vila luminosa.
Por outro lado, a igreja
negra, permanecia numa noite sombria». (AA.III.156, 157)
«Eles querem ser um só
corpo em algo diferente do Senhor. Formou-se um corpo, uma comunidade fora do
corpo do Jesus que é a Igreja: uma falsa igreja sem Redentor, onde o mistério
consiste em não ter mistério.
É quando a ciência se
separou da fé quando nasce esta igreja sem Salvador: as pretendidas obras boas
sem a fé, a comunhão dos incrédulos que tem aparência de virtude; numa palavra
a anti-igreja cujo centro está ocupado pela malícia, o erro, a mentira, a
hipocrisia, a lassitude, os artifícios de todos os demónios da época».
(AA.II.89)
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