A pregação do Evangelho a toda a
criação
como um sinal que precede
a Vinda do Reino de Nosso Senhor
Jesus Cristo
Video que mostra a predicação do Evangelho por todo o mundo ao longo destes 2000 anos
Michael
Schmaus, teólogo dogmático de renome, director da tese doutoral de Joseph
Ratzinger, escreve na sua ingente Dogmática[1]:
«Ainda
que a data da volta de Cristo é indefinida, foram-nos dados a conhecer os sinais
que a precederão. São eles: a pregação do Evangelho em todo o mundo, a
conversão do povo judeu, penalidades e tribulações da Igreja, a aparição do
Anticristo, e o caos da criação.
Cristo
não virá até que a Boa Nova tenha sido pregada em todo o mundo (cf. Mc 10,13;
Mt 24,14). Assim foi determinado por Deus. Antes de que Cristo venha por
segunda vez ao mundo, os povos serão postos diante da decisão de com Ele o
contra Ele. No momento da sua volta só poderá haver amigos ou inimigos de
Cristo. Uns verão n’Ele o Rei largo tempo desejado que por fim vem da cidade
celestial e os outros verão n’Ele o grande inimigo que, bruscamente, dará fim
ao seu poder erigido com todos os meios da força e da mentira.
Não
está profetizado que cada homem em particular escutará a predicação de Cristo
antes do “fim do mundo”, nem que todos a aceitarão; a pregação do Evangelho
será feita antes do fim, a todos o grupos de homens, a todos os povos. O
individuo recebe a Cristo em quanto membro do seu povo (cf. Mt 26,28). Cristo
foi preparado por Deus como salvação aos olhos dos povos, luz para iluminar os
povos estranhos (Lc 2,30-31). [...]
Também
não se pode dizer se o fim ocorrerá imediatamente depois que o Evangelho tenha
sido pregado a todo o mundo. Só está profetizado que o fim do mundo não
acontecerá antes de que o Evangelho tenha sido pregado a todos os povos. Seria
compatível com esta profecia que passe um longo período de tempo entre a
predicação do Evangelho a todos os povos e o “fim do mundo”» (pp. 168-169).
1.
O termo “fim do mundo”: uma
tradução equívoca da Sagrada Escritura ao nosso idioma.
Em
Mt 24,3 os discípulos perguntam a Jesus qual será o signo da sua vinda e do “fim
do mundo”. Nosso Senhor Jesus Cristo responde: «Proclamar-se-á esta Boa Nova do
Reino no mundo inteiro, para dar testemunho a todas as nações. E então chegará
o fim» (Mt 24,14). No entanto, é preciso fazer notar que a Sagrada Escritura
não diz “fim do mundo”: esta é uma tradução equivocada. As palavras que vem
escritas no Evangelho segundo São Mateus são συνθελείας τοῦ αἰῶνος (syntheleías tou aiônos) que quer dizer literalmente
“fim da idade”[2].
Exactamente
o mesmo conceito aparece em Mt 13,39, no contexto da explicação do sentido da
parábola do trigo e do joio (cf. Mt 13,36-43), quando Jesus diz que «a ceifa é
o fim da idade»[3] (equivocadamente
traduzido ao português por “fim do mundo”).
E
ainda em outra ocasião, em Mt 28,16-20 no contexto da missão universal que
Cristo confia aos onze. Afirma em 28,20b: «E sabei, Eu estou convosco todos os
dias até ao fim da idade»[4].
2.
O significado da categoria
teológica “fim da idade”.
O
termo “eón” na Sagrada Escritura é um termo polissémico; um termo polissémico é
aquele que sendo um, refere-se a coisas diferentes. Nós centrar-nos-emos
naquele sentido que tem de “idade”, “período”, “tempo”, “era”.
São João Damasceno (676-749 d.C), Padre da Igreja e Doutor da Igreja, recolhe a herança cristã que concebe a Historia da
Salvação dividida em oito idades (eón[5]).
Afirma o santo na sua Exposição da Fé
II, 1:
«Certamente, dizem-se sete
eões [idades] de este mundo, desde a criação do céu e da terra até ao fim e à
ressurreição comum dos homens. Por uma parte, o final particular é a morte de
cada um; por outra, existe o final comum e perfeito, quando chegue a
ressurreição dos homens. O oitavo eón [idade] é o mundo futuro».
Não obstante, para uma
maior profundidade da exposição desta matéria acudimos a um Padre da Igreja
anterior, São Ireneo de Lyón (130-202 d.C.), e à sua classificação dos eões ou
idades da Historia da Salvação. São elas:
i.
A idade que se inicia com a criação / aliança com Adão
ii.
A idade que se inicia com a Aliança com Noé
iii.
A idade que se inicia com a Aliança com Abraão
iv.
A idade que se inicia com a Aliança com Moisés
v.
A idade que se inicia com a Aliança com David
vi.
A idade que se inicia com a Nova Aliança, em Cristo.
vii.
A idade que se inicia com a Reino do Filho
viii.
A idade que se inicia com a Reino do Pai
Ora,
o eón a que Nosso Senhor se refere nas passagens do Evangelho de São Mateus que
antes referimos, é aquele que vem inaugurado com a Aliança Nova e Eterna no Seu
Sangue. Em Mt 24,3 os discípulos perguntam a Jesus qual será o signo da sua
vinda e do “fim da idade”. Nosso Senhor Jesus Cristo responde: «Proclamar-se-á
esta Boa Nova do Reino no mundo inteiro, para dar testemunho a todas as nações.
E então chegará o fim» (Mt 24,14). Exactamente o mesmo conceito aparece em Mt
13,39, no contexto da explicação do sentido da parábola do trigo e do joio (cf.
Mt 13,36-43), quando Jesus diz que «a ceifa é o fim da idade»[6].
E ainda em outra ocasião, em Mt 28,16-20 no contexto da missão universal que
Cristo confia aos onze. Afirma em 28,20b: «E sabei, Eu estou convosco todos os
dias até ao fim da idade»[7].
Nosso Senhor está a falar da sexta idade, do fim do sexto eón.
Ora
precisamente o livro do Apocalipse segundo São João é toda uma larga descrição
da grande tribulação que se vive neste fim
do tempo do sexto eón. Culminará com a derrota do Anticristo a quando da
segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e com a inauguração do Seu reino milenário,
é dizer com a inauguração da sétima idade
ou do sétimo eón (cf. Ap 19,11-20,6).
Assim,
também os sinais que precedem a volta de Nosso Senhor e que no Novo Testamento
vem anunciados ora por boca de Jesus ora pela dos Apóstolos (a pregação do
Evangelho em todo o mundo, a conversão do povo judeu, penalidades e tribulações
da Igreja, a aparição do Anticristo, e o caos da criação) referem-se sempre ao fim
da sexta idade que dará passo à sétima idade, é dizer, ao Reino Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Precisamente ao “fim da
idade”, ao fim do tempo da sexta idade, e ao anuncio do começo do Reino de
Nosso Senhor (a sétima idade) se referiu Nossa Senhora em várias das suas mais
conhecidas aparições:
— La Salette, 1846: «Então
a água e o fogo purificarão a Terra e consumirão todas as obras do orgulho dos
homens, e tudo será renovado. Deus será servido e glorificado».
— Fátima, 13 de Julho de
1917: «Por fim o Meu Imaculado Coração triunfará».
— Akita, 1973: «Aqueles que
põem a sua confiança em Mim serão salvos».
— El Escorial, 5 de
Setembro de 1987: «Por mim, minha filha, formou-se a Igreja na Terra. E por
mim, minha filha, virá o Paraíso».
— P. Stefano Gobbi, 31 de
Dezembro de 1997: «Por fim o meu Imaculado Coração triunfará. Isso acontecerá no
maior triunfo de Jesus, que trará para o mundo o seu glorioso reino de amor, de
justiça e de paz e fará novas todas as coisas. Abri os corações à esperança.
Escancarai as portas a Cristo que vem a vós na glória. Vivei a trépida hora
deste segundo Advento. Tornai-vos, assim, os corajosos anunciadores deste meu
triunfo, porque vós, pequenas crianças consagradas a Mim, que viveis do meu
próprio espírito, sois os Apóstolos destes últimos tempos. Vivei como fiéis
discípulos de Jesus, no desprezo do mundo e de vós mesmos, na pobreza, na
humildade, no silêncio, na oração, na mortificação, na caridade e na união com
Deus; enquanto sois desconhecidos e desprezados pelo mundo».
3.
A categoria teológica
“mundo” na Sagrada Escritura.
Um termo
polissémico é aquele que sendo um, refere-se a coisas diferentes. É o caso da
categoria teológica “mundo” na Sagrada Escritura, a qual apresenta, a grandes
rasgos, dois sentidos: um positivo e outro negativo.
a.
Sentido positivo
Por
aspecto positivo podemos entender “mundo” como a criação de Deus, o Universo.
Assim São Paulo: «Deus que fez o mundo
(κόσμον) e tudo o que nele existe, que é o Senhor do Céu e da
terra [...]» (Act 17,24). Também São João diz que o mundo (κόσμος) foi feito pelo Verbo (cf. Jo 1,10). E
Jesus mesmo, no contexto da Última Ceia, dirige a Deus a chamada “oração
sacerdotal” na que pede ao seu Pai que o glorifique com a gloria que Jesus
tinha antes que o mundo (κόσμον) existisse (cf. Jo 17, 5).
Ora, o centro da criação é
o homem, para quem foi criado o universo e tudo o que nele existe, como nos
recorda São João Crisóstomo, Padre e Doutor da Igreja:
«Qual é, pois, o ser que
vai chegar à existência rodeado de tal consideração? É o homem, grande e admirável
figura vivente, mais precioso aos olhos de Deus que toda a criação; é o homem,
para quem existem o céu e a terra e o mar e a totalidade da criação, e a cuja
salvação Deus deu tanta importância, que, por ele, nem ao seu próprio Filho
poupou. Porque Deus não desiste de tudo realizar, para fazer subir o homem até
Si e fazê-lo sentar à sua direita» (Sermones
in Genesim, 2, 1: PG 54, 587D-588A).
Por
isso Jesus afirma que «tanto amou Deus o mundo
(κόσμον) que entregou o seu Filho unigénito» (Jo 3,16); aqui
“mundo” refere-se à criação, mas tendo especificamente em conta o centro dela,
é dizer, o homem criado à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 2,7), o homem
eleito para ser filho adoptivo de Deus por meio de Jesus Cristo (cf. Ef 1,5).
b.
Sentido negativo
Por
aspecto negativo podemos citar as seguintes palavras da Primeira Carta de São
João 2,15-17: «Não ameis o mundo
(κόσμον), nem o que está no mundo
(κόσμῳ). Se alguém ama o mundo
(κόσμον), o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo (κόσμῳ) —a concupiscência da
carne, a concupiscência dos olhos e a vã gloria das riquezas— não vem do Pai,
mas do mundo (κόσμου). O mundo (κόσμος) e as suas concupiscências
passam; mas quem cumpre a vontade de Deus viverá para sempre». Neste contexto
percebe-se que São João está a referir-se à categoria “mundo”, não com aquele
sentido primário —positivo— que tem de criação,
mas aqui “mundo” vem claramente identificado com aquela realidade existencial
onde está o pecado, fruto da livre acção humana contra o projecto divino.
Esta
rebeldia do homem contra o seu Criador é inspirada desde o principio por
Satanás, quando no Paraíso instigou o primeiro homem e a primeira mulher à
desobediência do mandato divino (cf. Gn 3). Assim, o “mundo”, depois do pecado,
já não vem entendido somente como criação amorosa de Deus, onde tem lugar a
relação crescente entre Deus e os homens, mas aceita também aquele outro
sentido contrario, é dizer, o “mundo” como lugar onde prospera ao longo dos
séculos a desobediência primeira de Adão e Eva, perpetuada no género humano.
Por isso, Jesus chama a Satanás «príncipe de este mundo (ἄρχων τοῦ κόσμου)» (cf. Jo 12,31;16,11).
Jesus,
no contexto da Última Ceia, quando diz aos discípulos que Ele é a videira
verdadeira, à que eles devem estar unidos como os seus ramos, diz-lhes também:
«Se o mundo (κόσμος) vos odeia, sabei
que a mim me odiou antes que a vós» (Jo 15,18). No mesmo contexto da Última
Ceia, Jesus, na chamada “oração sacerdotal”, quando intercede a seu Pai pelos
Apóstolos afirma: «Eu dei-lhes a tua palavra, mas o mundo (κόσμος) odiou-os, porque não são do mundo (κόσμου), como eu não sou do mundo (κόσμου)» (Jo 17,14). Está claro o sentido negativo que
“mundo” apresenta neste contexto: o “mundo” odiou Cristo e os que são de
Cristo, e por “mundo” aqui se entende as pessoas e todas as realidades mundanas, que são “anti-crísticas”, é
dizer, contra as verdades que Jesus Cristo, o Filho Eterno de Deus, veio
revelar.
4.
É possível traduzir “fim da
idade” por “fim do mundo”.
As
nossas traduções da Sagrada Escritura traduzem “fim da idade” por “fim do mundo”.
Isto pode-se entender como “fim da idade do mundo”, considerando “mundo”
naquele sentido negativo que antes expusemos; ou então se se entende mundo com
o sentido de “idade”, “era”, “eón”.
De
facto, confessamos no Credo: “creio na ressurreição dos mortos e a vida do
mundo que há-de vir”; a nossa fé fala de um mundo que há-de vir, por oposição a
um mundo que há de passar. No entanto, deve entender-se sempre o termo mundo
naquele sentido que explicámos de “idade”, “era”, “eón”.
Do
mesmo modo se deve ler a profecia dos novos céus e da nova terra. Deus revelou
ao profeta Isaías uns novos céus e uma nova terra (Cf. Is 65,17; 66,22). São
Pedro recorda que os cristãos esperamos nesta promessa que Deus nos fez por
meio de Isaías (Cf. 2P 3,13). E São João no livro de Apocalipse vê em antecipo
o cumprimento da promessa: «Depois vi um Céu novo e uma terra nova, porque o
primeiro céu e a primeira terra desapareceram» (Ap 21,1). Como dizemos, estas
palavras dos novos céus e da nova terra não podem ser entendidas como
aniquilação do nosso planeta ou do universo que Deus criou, ainda que alguém
pudesse deduzir isto a partir das palavras de São Pedro em 2 Pe 3,10-12.
De
facto a Sagrada Escritura afirma a subsistência desta criação in aeternum, porque destinada a gozar
também da incorruptibilidade. Vejamos. O livro da Sabedoria afirma: «Porque
amais tudo que existe, e não odiais nada do que fizestes, porquanto, se o
odiásseis, não o teríeis feito de modo algum. Como poderia subsistir qualquer
coisa se não o tivésseis querido, e conservar a existência, se por vós não
tivesse sido chamada? Mas poupais todos os seres, porque todos são vossos, ó
Senhor, que amais a vida» (Sb 11,24-26). Contamos também com a doutrina de São
Paulo que afirma em Rom 8,19-23: «A criação aguarda com ansiedade a revelação
dos filhos de Deus. Pois ela foi submetida à frustração, não pela sua própria
vontade, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de ser
libertada da escravidão da corrupção para participar na gloriosa liberdade dos
filhos de Deus. Sabemos que toda a criação geme até ao presente e sofre dores
de parto. E não só ela, mas também nós, que temos os primeiros frutos do
Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente a nossa adopção como
filhos, a redenção do nosso corpo». Esta redenção da criação chegará na
inauguração do Reino de Nosso Senhor a quando da sua vinda como narra Ap
19,11-20,6.
Por
fim, São Paulo afirma que passará a figura de este mundo (Cf. 1Co 7,31). A
actual figura do mundo passará quando a criação seja revestida da incorrupção;
isto sucederá no fim do Reino milenário de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando a
nova Jerusalém desça do céu, de junto de Deus, ataviada como uma noiva para o
seu esposo. Essa será a morada que Deus porá no meio dos homens: eles serão o
seu povo e Ele será o seu Deus. Enxugará toda a lágrima, e não haverá morte nem
pranto, nem gritos, nem fadigas, porque o mundo velho passou (cf. Ap 21,2-4).
Será inaugurada a oitava idade, o oitavo eón, o Reino do Padre: é última idade,
a idade que não tem fim, isto é, a eternidade da humanidade e de toda a criação
em Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Assim também São Paulo em 1Co 15,24-26: «Então
virá o fim, quando Ele entregar o Reino a Deus, o Pai, depois de ter destruído
todo domínio, potestade e poder. Porque é necessário que Ele reine até que
absolutamente todos os seus inimigos sejam prostrados debaixo de seus pés. E o
último inimigo que será destruído é a Morte».
No hay comentarios:
Publicar un comentario