São Luís-Maria Grignion de
Montfort
(1673–1716)
Canonizado pelo Pp. Pio XII
em 1947
“Papel
Especial de Maria nos Últimos Tempos”
(Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima
Virgem, Nos 49-54)
I. Papel
Especial de Maria nos Últimos Tempos
49. A salvação do mundo começou por Maria, e é por Ela que se deve consumar. Na primeira vinda de Jesus Cristo,
Maria quase não apareceu, a fim de que os homens, ainda pouco instruídos e
esclarecidos sobre a pessoa de seu Filho, não se afastassem da verdade, apegando-se
muito intensa e grosseiramente a Ela. Sendo a Virgem conhecida, é provável que
isso tivesse acontecido por causa dos encantos admiráveis que o Altíssimo lhe
tinha concedido, mesmo exteriormente. Tanto assim é que São Dionísio Areopagita deixou escrito que, quando a viu,
a teria tomado por uma divindade, —devido aos Seus secretos atractivos e à sua
beleza incomparável—, se a fé, em que estava bem confirmado, lhe não tivesse
garantido o contrário.
Mas, na segunda
vinda de Jesus Cristo, Maria tem de ser conhecida e, por isso, deve ser
manifestada pelo Espírito Santo. Por Ela fará Conhecer, Amar e
Servir Jesus Cristo, uma vez que já não
subsistem as razões que o levaram a ocultar, durante a vida, a sua Esposa, e a
revelá-la só muito pouco, desde a pregação do Santo Evangelho.
50. Nestes que são os tempos derradeiros Deus quer, pois, revelar
e manifestar Maria, a obra prima das suas mãos.
1º porque Ela se escondeu neste mundo,
e se colocou mais abaixo que o pó, em sua humildade profunda, tendo obtido de
Deus, dos Seus Apóstolos e Evangelistas, que não fosse manifestada;
2º porque Ela é obra-prima saída das
mãos de Deus, tanto na Terra pela graça, como no Céu pela glória. Por isso Deus
quer, por meio d’Ela, ser louvado e glorificado sobre a terra pelos viventes;
3º porque é Ela a aurora que precede e anuncia
o Sol da Justiça, Jesus Cristo, Maria deve ser conhecida e vista, para que
Jesus o seja também;
4º porque sendo Ela o caminho por onde
Jesus Cristo veio a nós da primeira vez, haverá de sê-lo ainda quando Ele vier
pela segunda, embora de maneira diversa;
5º porque é Maria o meio seguro, a via recta
e imaculada para ir a Jesus Cristo e para o encontrar perfeitamente, é por Ela
que o devem achar as almas chamadas a brilhar em santidade. Aquele que achar
Maria, achará a vida (Pr 8, 35), isto é, encontrará Jesus Cristo, que é o
Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14, 6). Mas não a pode achar quem a não
procurar; não pode procurá-la quem a não conhecer: pois não se busca nem se
deseja um objecto desconhecido. É pois necessário que Maria seja conhecida mais
do que nunca, para maior conhecimento e glória da Santíssima Trindade;
6º Maria deve brilhar mais do que nunca
em misericórdia, em força e em graça nestes últimos
tempos. Em misericórdia, para reconduzir e receber amorosamente
os pobres pecadores e extraviados, que se converterão e regressarão à Igreja
Católica. Em força, para se opor aos inimigos de Deus, aos idólatras,
cismáticos, maometanos, judeus e ímpios endurecidos, que se revoltarão
terrivelmente, para seduzir e fazer cair, por meio de promessas e ameaças,
todos os que lhes forem contrários. E, finalmente, Ela deve brilhar em graça,
para animar e suster os valorosos soldados e fiéis servos de
Jesus Cristo, que combaterão pelos Seus interesses;
7º por fim, Maria deve ser terrível para
o demónio e seus sequazes, como um exército disposto em linha de batalha (Ct 6,
3.9), principalmente nestes últimos tempos. A razão disso é que o demónio
intensifica todos os dias seus esforços e combates, visto saber bem que tem pouco
tempo (Ap 12, 12), e muito menos do que nunca, para perder as almas. Suscitará
em breve cruéis perseguições, e armará terríveis emboscadas aos servos fiéis e
verdadeiros filhos de Maria, pois lhe são precisos mais esforços para vencer
estes do que os outros.
51. Estas últimas e cruéis perseguições do demónio aumentarão
dia a dia, até vir o Reino do Anticristo. É principalmente a estas que se deve
aplicar a primeira e célebre predição e maldição de Deus proferida no Paraíso
Terrestre contra a serpente. Vem a propósito explicá-la aqui, para a glória da
Santíssima Virgem, salvação dos Seus filhos e confusão do demónio.
“Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a d'Ela;
Ela te esmagará a cabeça, e tu armarás ciladas ao seu calcanhar” (Gn 3, 15).
52. Deus nunca estabeleceu e formou senão uma única
inimizade, mas esta irreconciliável, devendo durar e mesmo aumentar até o fim.
É a inimizade entre Maria, sua digna Mãe, e o demónio; entre os filhos e servos
da Santíssima Virgem e os filhos e satélites de Lúcifer. Deste modo, o inimigo
mais terrível que Deus constituiu contra o demónio é Maria, sua Santa Mãe. E
Maria, ainda existindo apenas na mente de Deus, foi por Ele dotada, desde o
Paraíso Terrestre, de tanto ódio contra este maldito inimigo, tanta diligência
em descobrir a malícia desta antiga serpente, tanta força para vencer,
aniquilar e esmagar este ímpio orgulhoso, que este a teme, não só mais que a
todos os anjos e homens, mas, num certo sentido, mais do que ao próprio Deus. Não é que a ira, o ódio e o
poder de Deus não sejam infinitamente superiores aos da Santíssima Virgem,
visto as perfeições d'Ela serem limitadas. Mas é que: em primeiro lugar, Satanás, sendo orgulhoso, sofre infinitamente mais em ser vencido e esmagado
por uma pequena e humilde serva de Deus, e a humildade desta humilha-o mais que
o poder divino; depois, porque Deus conferiu a Maria um tão grande
poder sobre os demónios, que eles temem mais um único dos Seus suspiros por
alguma alma, que as orações de todos os santos, e uma só das suas ameaças, mais
que qualquer outro tormento. Isto foram eles obrigados a confessar muitas
vezes, ainda que de má vontade, pela boca dos possessos.
53. O que Lúcifer perdeu por orgulho, ganhou-o Maria pela sua
humildade; o que Eva condenou e perdeu pela desobediência, salvou-o Maria
obedecendo. Eva, ao obedecer à serpente, perdeu consigo todos os seus filhos e
entregou-os ao demónio. Maria, tendo sido perfeitamente fiel a Deus, salvou
juntamente consigo todos os Seus filhos e servos, e consagrou-os à Divina
Majestade (Santo Ireneu de Lyon).
54. Deus constituiu não somente uma inimizade, mas “inimizades”, não apenas entre Maria e o demónio,
mas também entre a descendência da Virgem Santa e a de Satanás. Isto quer dizer
que Deus estabeleceu inimizades, antipatias e ódios secretos entre os
verdadeiros filhos e servos da Santíssima Virgem e os filhos e escravos do demónio:
eles não se amam, nem têm qualquer correspondência interior uns com os outros.
Os filhos de
Belial (Dt 13, 13), os escravos de Satanás, os amigos do mundo (não há
diferença), até hoje perseguiram sempre, e perseguirão mais do que nunca,
aqueles que pertencem à Santíssima Virgem, como outrora Caim perseguiu seu irmão
Abel, e Esaú perseguiu Jacob, figuras dos réprobos e dos predestinados. Mas a humilde Maria alcançará sempre a vitória sobre este orgulhoso, e essa vitória será tão grande que chegará a
esborrachar-lhe a cabeça, onde reside o seu orgulho. Ela descobrirá sempre a
sua malícia de serpente, e porá a descoberto as suas tramas infernais.
Dissipará os seus conselhos e protegerá, até o fim dos tempos, os Seus servos
fiéis contra aquelas garras cruéis.
Mas o poder de
Maria sobre todos os demónios brilhará particularmente nos últimos tempos, em
que Satanás armará ciladas contra o seu calcanhar, ou seja, contra os humildes
escravos e pobres filhos, que Ela suscitará para lhe fazer guerra. Eles serão
pequenos e pobres na opinião do mundo, humilhados perante todos, calcados e
perseguidos como o calcanhar o é em relação aos outros membros do corpo. Mas,
em troca, serão ricos da graça de Deus, que Maria lhes distribuirá
abundantemente. Serão grandes e de elevada santidade diante de Deus, e
superiores a toda criatura pelo seu zelo ardente. Estarão tão fortemente
apoiados no socorro divino que esmagarão, com a humildade de seu calcanhar e em
união com Maria, a cabeça do demónio, fazendo triunfar Jesus Cristo.
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