São Cirilo de Jerusalém
315-386 A.D.
Bispo
e Doutor da Igreja
Catequese XV
A Segunda Vinda de Cristo[1]
«Os
dois adventos de Cristo
1. Anunciamos o advento de Cristo. Não, porém, um só, mas também o segundo,
muito mais glorioso que o primeiro. Aquele revestiu um aspecto de sofrimento;
este trará consigo o diadema do reino divino.
Sucede que quase todas as coisas são duplas em Nosso Senhor Jesus Cristo.
Duplo é seu nascimento: um, de Deus, desde toda a eternidade; outro, da Virgem,
na plenitude dos tempos. Dupla também é a sua descida: a primeira, na
obscuridade e silenciosamente, como a chuva sobre a relva (Sal 72,6); a outra, no esplendor da
sua glória, que se realizará no futuro.
No seu primeiro advento, foi envolvido em faixas e deitado num presépio (Lc 2,7); no segundo, será revestido
com um manto de luz (cf. Sal 104,2a). No primeiro suportou a cruz, sem
recusar a sua ignomínia (Hebr
12,2); no segundo, aparecerá glorioso, escoltado pela multidão dos Anjos
(cf. Mt 25,31).
Não nos detemos, portanto, a meditar só no primeiro advento, mas vivemos na
esperança do segundo. Assim como aclamamos no primeiro: Bendito o que vem em
nome do Senhor (Mt 21,9),
exclamaremos também no segundo (cf. Mt 23,39), saindo ao encontro do Senhor
juntamente com os Anjos, em atitude de adoração: Bendito o que vem em nome
do Senhor.
Virá o Salvador, não para ser novamente julgado, mas para chamar a juízo
aqueles que O julgaram. Ele que, ao ser julgado, guardou silêncio (Mt 27,12),
lembrará as atrocidades dos malfeitores, que O levaram ao suplício da cruz, e
lhes dirá: Tudo isto fizestes e Eu calei-me (Sal 50,21).
Naquele tempo veio para cumprir o desígnio de amor misericordioso,
ensinando e persuadindo os homens com suavidade; no fim dos tempos, queiram ou
não, todos se hão-de submeter ao seu reinado.
2. De ambos os adventos fala o profeta Malaquias: Depressa virá ao seu
templo o Senhor a quem buscais
(Mal 3,1). Isto quanto ao primeiro advento.
A respeito do segundo diz assim: E o Anjo da aliança por quem suspirais.
Eis que vem o Senhor Omnipotente. Quem poderá suportar o dia da sua vinda? Quem
poderá resistir quando Ele aparecer? Porque Ele virá como o fogo do fundidor,
como a barrela dos lavandeiros. E sentar-se-á para fundir e purificar (Mal 3,1-3). [...]
Escrevendo a Tito, também Paulo se refere aos dois adventos com estas
palavras: Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os
homens, ensinando-nos a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos, e a viver
no mundo presente com toda a sobriedade, justiça e piedade, aguardando a ditosa
esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus
Cristo (Tit 2,11-13). Vê
como falou do primeiro advento, pelo qual dá graças a Deus, e do segundo, que
esperamos.
Por esse motivo, afirmamos na nossa profissão de fé, tal como a recebemos
por tradição, que acreditamos n’Aquele que subiu aos Céus e está sentado à
direita do Pai e que há-de vir em sua glória para julgar os vivos e os mortos,
e o seu reino não terá fim.
3. Virá, portanto, do alto dos Céus, Nosso Senhor Jesus
Cristo. Virá no fim deste mundo, em sua glória, no último dia. Será então o fim
deste mundo criado e o início de um mundo novo.»
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