Papa São Pio X
(1903-1914)
Encíclica E Supremis, 1903 a.D.
A Apostasía, O Anticristo, A Vitória
de Deus
«Além
disto, e para passar em silêncio muitas outras razões, Nós experimentávamos uma
espécie de terror em considerar as condições funestas da humanidade na hora
presente. Quem não vê que a sociedade está, no tempo presente muito
mais que no passado, a sofrer de uma terrível e profunda doença que,
agravando-se dia a dia, a corrói até ao mais profundo do seu ser e a arrasta à
destruição?
Essa doença, Veneráveis Irmãos, vós a conheceis, e é o abandono e a apostasía
para com Deus; e, sem dúvida, nada há que leve mais seguramente à ruína, conforme
a palavra do profeta: Eis que os que se
afastam de vós perecerão (Sl 72,27)». (nº 3)
«Sobejamente
verdadeiro é que as nações se sublevaram
e os povos meditaram projectos insensatos (Sl 2,1) contra o seu Criador; e frequente
se tornou este grito dos seus inimigos: Retirai-Vos
de nós (Job 21,14). Daí, na maioria, uma rejeição completa de todo o
respeito de Deus. Daí hábitos de vida, tanto privada como pública, em que
nenhuma conta se faz da soberania de Deus. Bem mais, não há esforço nem
artifício que não se ponha por obra para abolir inteiramente a lembrança d’Ele,
e até a sua noção». (nº 4)
«Quando
tudo isto é considerado, existe uma boa razão para temer que esta grande
perversidade possa ser um preanuncio, e talvez o começo dos males que estão
reservados para os últimos dias; e que habite já nesta terra o “Filho da
Perdição” de quem o Apóstolo fala (2 Tess 2,3). Em verdade, tamanha é a audácia
e tamanha a sanha com que por toda parte se lança o ataque à religião, com que
se investe contra os dogmas da fé, com que se tende obstinadamente a aniquilar
toda a relação do homem com a Divindade! Por outro lado, e de acordo como o
mesmo Apóstolo, segundo o carácter próprio do Anticristo, o homem, com uma
temeridade sem nome, usurpou o lugar do Criador, elevando-se acima de tudo o
que traz o nome de Deus. E isso a tal ponto que, impotente para extinguir em si
completamente a noção de Deus, ele rejeita o jugo da Sua majestade, e dedica a si
mesmo o mundo visível como se fosse um templo onde pretende receber as
adorações dos seus semelhantes. Senta-se
no templo de Deus, onde se mostra como se fosse o próprio Deus (2 Tess 2,2)».
(nº5)
«Qual
venha a ser o desfecho deste combate travado pelos mortais contra Deus, nenhum
espírito sensato pode pô-lo em dúvida. Certamente, ao homem que abusa da
própria liberdade é concedido violar o direito e a autoridade do Criador do
universo. Mas ao Criador fica sempre a vitória. E ainda não é dizer o bastante:
a ruína paira mais de perto sobre o homem quando mais audacioso ele se ergue na
esperança do triunfo. É o de que o próprio Deus nos adverte nas Sagradas
Escrituras. Dizem elas que Ele fecha os
olhos sobre os pecados dos homens (Sab 11,24), como que esquecido do seu
poder e da sua majestade; mas em breve, após essa aparência de recuo, acordando como um homem cuja força a
embriaguez aumentou (Sl 77,65), Ele
quebrará a cabeça dos seus inimigos (Sl 67,22), a fim de que todos saibam
que Deus é o Rei de toda a terra (Sl
46,8), e de que os povos compreendam que não passam de homens (Sl 9,20)».
(nº6)